sábado, 7 de março de 2009

Sobre Prudência, Métodos Ágeis, Honestidade Intelectual e Caça as Bruxas

Não acredito que o tempo seja a verdadeira escala de medida do progresso. Apenas porquê temos hoje uma profusão de novas informações, novos métodos e novas promessas, não acredito que sejamos melhores do que os que nos precederam.

Não acredito num futuro brilhante como resultado unicamente baseado nas nossas ações do presente. Acredito no máximo num futuro razoável a enormes expensas de muito trabalho físico e cognitivo baseado na experiência pessoal de cada indivíduo. Compreendo que a estabilidade e a mudança devem ser reconhecidas e reconciliadas.

O que já é um ganho em si.

Apenas para mantermos nossos ganhos devemos nos esforçar para resistir à esmagadora força da entropia (no sentido de dispersão de energia). Sendo assim, o feedback é um mecanismo importante para a manutenção da concentração de energia do sistema para que este consiga sustentar um nível de trabalho aceitável, possibilitando o reconhecimento de uma cadeias de causa e efeito passíveis de uso na manutenção de ciclos virtuosos.

Isto foi o que me atraiu mais no advento do Scrum. Uma prática calcada na revisão constante de nossas ações passadas. Mas o Scrum não é nada mais que isso, é uma descrição de um mecanismo de feedback em um sistema.



Atualmente está ocorrendo uma caça às bruxas onde o Scrum é o bode expiatório da vez (Adopting the Whole Enchilada, Flacid Scrum e outras asneiras vindas a reboque do Decline and Fall of Agile).

Retrospectivas não são apenas pontos de replanejamentos per se. Tampouco são reuniões de terapia de grupo. São pontos ativos onde o feedback é usado para correção de rumo do método. É o ponto onde o relacionamento causal de nossos atos pode ser analisado e corrigido. É o reconhecimento do pensamento sistêmico como modo de se usar a dinâmica de sistemas em nosso proveito.

A despeito de toda uma indústria de consultorias e certificações criadas a seu redor, este é o valor de Scrum: sua simplicidade. Seu respeito a uma regra básica da física o torna um método elegante. Ponto.

Obviamente Scrum não é o suficiente. Para tirarmos proveito disto temos que ser criteriosos durante a retrospectiva. Isto não significa usar o bom senso, ou senso comum. O que quer que isso signifique acredito que não seja o ponto. Falo de honestidade intelectual. Não existe bala de prata.

Ser intelectualmente honesto não é uma tarefa fácil, reconfortante, ou que traga felicidade ou paz. Não foram nem uma nem duas vezes que idéias minhas foram refutadas (tanto justa como injustamente). O conhecimento da verdade, e principalmente de sua extensão, não é uma tarefa para fracos. Scrum não é o suficiente.

O que falta aos praticantes, agilistas convictos ou não, é pensamento crítico. Aproveitar os momentos de retrospectiva para REALMENTE fazer um ponto de inflexão. Onde podemos adotar uma série de técnicas fartamente documentadas na literatura de ciência da computação sistemas de informação e administração, submetê-las ao duro teste da prática e avaliá-las sem dogmatismo.

Durante a retrospectiva devemos entender que não há nada o que fizemos, absolutamente NADA, que seja realmente novo (não sou um fã de Nietzche). No decorrer de 40 anos de engenharia de software e de 10000 anos de outras engenharias, o que temos a fazer é olhar os que nos precederam, e isto não se restringe aos agilistas, nem tampouco ao RUP ou outra metodologia.

Não é uma questão de adoção do "bolo inteiro" é uma questão de adoção do que realmente podemos adaptar e empregar em um sistema sócio-técnico altamente dinâmico para que possamos retardar o avanço da entropia.

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